RISISTÊNCIA AERÓBICA
É a qualidade física que permite a um atleta sustentar por um período longo de tempo uma atividade física relativamente generalizada em condições aeróbicas, isto é, nos limites do equilíbrio fisiológico denominado "Steady-State".
As variáveis fisiológicas que atuam diretamente no treinamento da resistência aeróbica são: (a) O desenvolvimento da capacidade funcional do coração; (b) A melhoria do transporte de oxigênio pelo aparelho circulatório e uma conseqüente situação de boas condições para as trocas gasosas; (c) O aumento da capacidade das fibras musculares para oxidar os açúcares e as gorduras.
Para o estudo da resistência aeróbica, apresentam-se algumas indicações e considerações, produtos de um grande número de investigações:
1. O grau de resistência aeróbica de um atleta será sempre função da capacidade do mesmo em absolver o mais rápido possível o oxigênio ao nível dos pulmões, e transportá-lo na maior quantidade possível por unidade de tempo, até chegar aos grupos musculares envolvidos na atividade física em execução, assegurando as trocas gasosas a nível celular. Em outras palavras, a resistência aeróbica é muito influenciada pela magnitude da PAM e um esportista.
2. A obtenção da resistência aeróbica por atletas submetidos a uma preparação em altos padrões possibilita aos mesmos um aumento na duração de trabalho e no número de esforços, além de criar meios para uma elevação do ritmo de movimentos, sem deixar que apareça um débito de oxigênio indesejável. Além disso, atletas com boa resistência aeróbica apresentam-se com melhores condições de recuperação após esforços intensos.
3. ASTRAND e RODAHL (1984) contribuíram bastante para o entendimento do estudo energético do esforço em "steady-state", concluindo que durante o trabalho de intensidade moderada, o processo anaeróbico contribui naturalmente no início do exercício, até que a oxidação aeróbica atenda à produção energética necessária.
4. A freqüência cardíaca (FC) é um dos meios mais eficazes para a orientação do treinamento que visa a melhoria da resistência aeróbica. Neste sentido, existem indicações para uma adequação da freqüência cardíaca ao treino:
a) Para a melhoria da eficácia do transporte de oxigênio, o trabalho deve ser efetuado a uma freqüência cardíaca entre 40 e 60% da reserva de freqüência cardíaca (RFC) individual, isto é, a uma freqüência que permita ao atleta realizar o esforço em "Steady-State".
b) Muitos investigadores, como ASTRAND (1954.), RISCHLING (954), SOESTRAND (1960), HOLLMAN (1963), FERFELL (1967), BUBE (1969), VOLKOV (1969), MOTILIANSKA (969), SAZIORSKIY (1969), TSCHEPIK (1969), indicaram a existência de relação entre a freqüência cardíaca, consumo máximo de oxigênio, velocidade de corridas, capacidade de trabalho e Volume Minuto. A freqüência cardíaca nesses estudos oscilou na faixa entre 150 e 180 bpm. Com base nessas pesquisas, DUREYAKOV e FRUTKOV (1975) concluíram que um treinamento, para constituir- se predominante de processos aeróbicos, não deverá permitir que os atletas ultrapassem os 150 bpm durante o esforço.
c) Para um aumento da capacidade funcional do coração, o trabalho deve ser realizado a uma freqüência cardíaca entre 170 e 180 bpm (QUIRION / 1975). É necessário chegar a essa freqüência o mais rapidamente possível e interromper o esforço imediatamente, aguardando o retorno ao número de batimentos cardíacos do início do estímulo. Varias repetições desse tipo de trabalho (treinamento intervalado) provocam condições favoráveis para que o coração de um atleta treinado desse modo obtenha uma melhor capacidade funcional.
5. Embora os métodos ou formas de trabalho identificados como treinamento contínuo sejam reconhecidos como os que apresentam melhores condições para um melhor rendimento, e sejam conseqüentemente os mais preconizados e utilizados pelos treinadores de um modo geral, o treinamento intervalado e o treinamento em circuito são também excelentes opções para o desenvolvimento da resistência aeróbica de atletas, desde que respeitados limites adequados de intensidade.
O fundamental no treinamento para a obtenção da resistência aeróbica é que haja uma busca constante no aumento de esforço em "Steady-State", pois qualquer exercício que seja realizado fora desse equilíbrio fisiológico terá resultado diferente dos objetivados. Por exemplo, se os atletas submetidos ao treinamento realizarem os esforços exigidos em débito de oxigênio, e não em "Steady-State", estarão desenvolvendo a resistência anaeróbica em vez da resistência aeróbica.
6. A progressão (sobrecarga) do trabalho de desenvolvimento da resistência aeróbica deve ser feita fundamentalmente na variável volume de treinamento (quantidade), A observação sobre a adaptação ou assimilação dos atletas às novas cargas impostas é o critério aconselhável para que os preparadores possam aplicar novas sobrecargas ao treinamento.
7. O desenvolvimento da capacidade aeróbica é essencial no Treinamento Desportivo de alto nível de qualquer modalidade, pois mesmo os esportes em que a capacidade anaeróbica é solicitada prioritariamente, os investigadores concluem que a base aeróbica é essencial para as possibilidades de recuperação adequada num treinamento anaeróbico (VOLKOV. GORDON, SCHlRKOWETZ e IVANOV, 1969), (CHANON, 1971), (POLAK, 1971) , (NABATNIKOWA, 1972), (QUIRION e METHOT, 1975), (TELEÑA 1976).
8. Existe uma tendência natural de denominar treinamento aeróbico aos meios utilizados para desenvolver a Potência Aeróbica Máxima, e treinamento anaeróbico aos procedimentos que visam o aperfeiçoamento da capacidade anaeróbica. É importante ressaltar que qualquer treinamento aeróbico interfere, dentro de certa dose, nos processos anaeróbicos, ao mesmo tempo em que a aplicação de um treinamento anaeróbico leva também a um envolvimento parcial dos mecanismos fisiológicos aeróbicos (DUREYAKOV e FRUTKOV, 1975).
9. TATE (1975) preconizou o treinamento aeróbico em quatro fases:
a) A primeira fase com corridas lentas, mas observando-se uma freqüência cardíaca sem ultrapassar os 70% da RFC individual;
b) A segunda fase, constituída de corridas lentas, utilizadas de forma intervalada, mas com os esforços realizados na faixa entre 60 e 70% da RFC individual;
c) A terceira fase, com o emprego do treinamento intervalado, com estímulos de duração entre 16 e 17s e intervalos de 30segundos, observando-se que na aplicação continuada dos estímulos, a FC deve chegar à faixa entre 85 e 100% da RFC individual. quando terminará o treino;
d) Na quarta fase, seria indicado um trabalho de velocidade e de força, combinando-se os estímulos das três fases anteriores com algumas novas especificações.
10. FAUCONNlER (1968), ao comparar os efeitos dos treinamentos contínuo e intervalado, quando utilizados para o desenvolvimento da resistência aeróbica, concluiu que os resultados aparecem mais rapidamente na aplicação de cargas intervaladas, mas que os efeitos da aplicação de cargas continuas são mais estáveis e duradouros.
11. Observa-se que equipes ou atletas que não são submetidos a um treinamento específico aeróbico, mesmo assim, muitas vezes alcançam um determinado desenvolvimento da resistência aeróbica. Este fato é explicado pelo grande número de horas de preparação diária empregados num período bastante significativo. Treinos de grande duração e cuja ênfase é dada principalmente a aspectos técnicos e táticos, consegue, de modo indireto, levar os atletas a um estágio de condição aeróbica satisfatório, mas sem aproximar-se do nível que poderia ser obtido por meios diretos.
12. A melhoria da resistência aeróbica contribui para os seguintes efeitos específicos nos atletas:
a) Aumento do volume do coração;
b) Aumento do número de glóbulos vermelhos e da taxa de oxigênio transportado pelo sangue;
c) Uma capilarização melhorada nos tecidos, o que resulta uma melhor difusão do oxigênio;
d) Aperfeiçoamento dos mecanismos fisiológicos de defesa orgânica;
e) Redução da massa corporal;
f) Melhoria na capacidade de absorção de oxigênio;
g) Redução da freqüência cardíaca de repouso e de esforço;
h) Diminuição do tempo de recuperação após o esforço;
i) Predisposição para um ótimo rendimento no treinamento de resistência anaeróbica a ser desenvolvido posteriormente;
j) Aumento da capacidade dos atletas para suportar uma maior duração nas sessões de treinamento de um modo geral.
13. Estudos de ASTRAND e RODAHL (1984) evidenciaram que antes da puberdade, não existem diferenças significativas na PAM entre homens e mulheres. Depois dessa fase do crescimento humano, o sexo feminino apresenta 70 a 75% das possibilidades do sexo masculino. Nos dois gêneros, há uma trajetória crescente dos 18 anos 20 anos de idade na melhoria da resistência aeróbica do Vo2max e da PAM. Após esta faixa etária, surge um declínio gradativo na aceleração das possibilidades aeróbicas máximas. Aos 65 anos, a Potência aeróbica apresenta-se próxima a 70% dos valores que poderiam ser encontrados aos 25 anos. Foi observado que na faixa etária dos 65 anos, o consumo máximo de oxigênio aproxima-se, em ambos os sexos, reduzindo a possível diferença até então existente.
Evidentemente estas afirmações compreendem generalizações extraídas de tendências nas investigações científicas, inclusive podendo-se citar as pesquisas de SPRYNAROVA (964), realizadas durante oito anos com39 meninos, confirmando ASTRAND e RODAHL, ao constatar maior crescimento da condição aeróbica no período da puberdade.
Vale também dizer que muito dessa tendência populacional ao longo da vida, relaciona-se a fatores culturais, que levam as pessoas a reduzir sua atividade física à medida que entram no mercado de trabalho sedentário, deteriorando acentuadamente a condição aeróbica. A este respeito, são inúmeros os exemplos de atletas veteranos que ostentam um excelente nível aeróbico apesar da idade, simplesmente por não terem abandonado a prática regular de atividades físicas bem dimensionadas.
14. ERIKSSON, GOLLNICK e SALTIN (1974.), após treinar um pequeno grupo de meninos de 11 anos, verificaram através de biopsia muscular: (a) a existência de enzimas oxidativas em qualidade ligeiramente mais alta do que em adultos; (b) as enzimas glicolíticas estavam numa quantidade bem menor que as habituais dos adultos.
Dessas observações pode-se dizer que, nessas crianças de 11 anos, ficou evidenciada uma resposta aeróbica favorável e uma resposta anaeróbica inferior.
15. Diversos testes já foram sugeridos para avaliação da resistência aeróbica. Entretanto, em não raras vezes, o que avaliam é a capacidade física de trabalho em esforços predominantemente aeróbicos ou, em sua maioria, o Vo2max ou a PAM. Pode-se citar o teste PWC-170, o teste de ASTRAND-REYMING, o teste de CURETON, o teste de FAULKNER e outros, todos em laboratório. Em campo, vários autores propuseram testes, como os de COOPER, o de RUFFIER-DICKSON, o de LARTlGUE, o de LETUONOV, o "Harvard Step-Test" e tantos outros. É importante observar que estes testes abrangem também um componente anaeróbico, embora em menor escala.
RISISTÊNCIA ANAERÓBICA
É a qualidade física que permite a um atleta sustentar, o maior tempo possível, urna atividade física em condições anaeróbicas, isto é, numa situação de débito de oxigênio.
Um esforço anaeróbico pode ser explicado pelas solicitações fisiológicas de oxigênio de um atleta no esforço, em condições superiores a sua capacidade de consumo, provocando um débito de oxigênio, que deverá ser reparado após o término desse esforço. Sabendo-se que o trabalho em débito de oxigênio tem com fator principal o desenvolvimento da resistência anaeróbica, fazem-se necessárias algumas considerações sobre esse fenômeno fisiológico.
No estudo da resistência anaeróbica, existe um número bem grande de pesquisas, as quais resultaram em indicações e conclusões, que têm facilitado o entendimento dessa valência física, e que são:
1. O desenvolvimento da resistência anaeróbica em atletas de alto nível possibilita aos mesmos prolongar esforços máximos, mantendo a velocidade e o ritmo de movimento, apesar do crescente débito de oxigênio, da conseqüente fadiga muscular e do aparecimento de um estresse mental progressivo.
2. A variável principal na medição da capacidade anaeróbica é o tempo que os atletas conseguem suportar o esforço anaeróbico.
É sabido que a potência de qualquer máquina significa a quantidade de energia que máquina é capaz de produzir em uma unidade de tempo. Vimos que a potência
Dica máxima (PAM) de um atleta é a quantidade de energia que ele utiliza a cada minuto, quando seu consumo de oxigênio é igual ao seu Vo2max.
Como a atividade física realizada na intensidade correspondente ao Vo2max requer grande contribuição do metabolismo anaeróbico, em geral a PAM não consegue ser sustentada por mais de sete minutos ininterruptos. Assim, é claro que numa prova longa, a potência aeróbica mantida será sempre inferior à PAM do atleta. Essa potência aeróbica sustentada pode ser expressa como vínhamos fazendo, em W, ou também em percentual potência aeróbica máxima, e é conhecida como "Potência Aeróbica Relativa" (%PAM). Quanto maior for à duração de uma prova, menor será a %PAM utilizada.
Em um estudo realizado com 112 participantes da “V Maratona do Rio de Janeiro”. (MORElRA, 1985), foi constatado que os desempenhos que os corredores são capazes de 'realizar na distância de 15km, fornecem excelentes informações sobre suas possibilidades em uma Maratona corrida nas mesmas condições ambientais .
Muitos autores têm proposto diversos métodos para se prever a "performance" em Maratonas, principalmente partindo de tempos obtidos nos 10Km.
A grande diferença entre esses métodos e o proposto em 1985 é que, neste, o cálculo, leva em conta a capacidade do atleta em sustentar, durante o maior tempo possível, uma elevada potência aeróbica relativa. De início, esta qualidade foi identificada como resistência aeróbica (MOREIRA 1985 e 1996). Hoje, todavia, considerando que a sustentação da maior %PAM possível exige um considerável componente anaeróbico para a realização do esforço, parece mais adequada à denominação de Resistência anaeróbica.
Em outras palavras, se dois corredores fazem o mesmo tempo em uma corrida de 15km, isto não significa que ambos tenham condições de fazer tempos idênticos em 42, 195km. É preciso que se analise a resistência anaeróbica de cada um.
Entre dois corredores aparentemente iguais, o melhor tempo na Maratona pertencerá a àquele que possuir a maior resistência anaeróbica, pois ele será capaz de correr durante mais tempo a uma elevada potência aeróbica relativa.
MORElRA (1985) identificou três categorias de atletas, em função da %PAM utilizada para correr 15km. A primeira perfaz os 15km na faixa de 83 a 87% da PAM. A segunda cumpre a distância entre 88 e 92% da PAM, enquanto que os atletas possuidores de uma extraordinária resistência anaeróbica são capazes de utilizar 95% da PAM nos 15km. Para essas três categorias de atletas, a %PAM prevista em uma Maratona seria de 75,80 e 85% da PAM, respectivamente.
É lógico que sempre que fazemos previsões temos que conviver com uma certa margem de erro. Particularmente quando tratamos de Maratona, onde muitos são os fatores capazes de influenciar a "performance". Os cálculos de MOREIRA (1985) foram idealizados para uma corrida de 42,195m, sem vento, em terreno plano, à temperatura de 22,°C e 60% de umidade relativa do ar, isto é, em condições médias de dificuldade. Levando-se em conta as características de cada Maratona, poderá haver uma variação para mais ou para menos no tempo da prova, mas a previsão é importante pelo que ela pode representar em termos de meta realística a ser perseguida.
Muitos perguntam o porquê da escolha da distância de 15 km. Na verdade, como o objetivo é uma avaliação da resistência anaeróbica, basta considerar que, em qualquer distância abaixo dos 15 km, não é possível a uma pessoa normal o esgotamento de suas reservas de glicogênio muscular. Assim é fácil percebermos que distâncias inferiores a 15 km não permitem uma estimativa confiável sobre a resistência anaeróbica do atleta, pois não exigem o suficiente do organismo, por não propiciarem a presença de fatores que o corredor enfrentará na competição-alvo, como os baixos níveis de glicogênio muscular, as alterações na glicemia, ou grandes perdas hídricas, fatores esses que "minam” significativamente a resistência anaeróbica.
Dessa forma, já que o objetivo era analisar o estágio de desenvolvimento físico do atleta visando um desempenho em Maratona, era preciso que sua resistência anaeróbica fosse testada no ponto onde esses fatores, altamente estressantes, começavam a atuar. E 15 km parece ser a menor distância que atende a essa finalidade.
Em 1989, PÉRONNET e THIBAULT publicaram uma análise matemática sobre o desempenho em corridas e os recordes mundiais. No trabalho em questão, eles estudaram os recordes mundiais masculinos e femininos e, de posse dos valores de PAM dos atletas recordistas, calcularam as respectivas %PAM, sustentadas na realização dos recordes. Constataram, então, um fenômeno bastante interessante: a redução da potência aeróbica relativa (%PAM) que podia ser sustentada numa prova obedecia uma curva muito regular. E para corridas entre 2 k:m e 42,195km, a regressão era linear, desde que a duração total da prova fosse referenciada numa escala logarítmica. Em outras palavras, a potência relativa que pode ser sustentada por um atleta decresce de forma linear, em função d logaritmo do tempo total de corrida.
A acurácia do modelo para a definição da referida curva foi primeiramente testada utilizando-se os recordes ou as melhores marcas mundiais do ano de 1987 para homens e mulheres. No caso dos homens, o erro médio entre o desempenho estimado pela linha de regressão da %PAM e o desempenho real em corridas a partir dos 60m até a Maratona expresso em porcentagem do resultado real, foi apenas 0,72,9%.
Para as mulheres, o erro médio constatado na mesma amplitude de distâncias (60 a 42,195m) foi bem maior do que para os homens, atingindo 1,27%. Isto se devia principalmente à enorme discrepância entre o desempenho estimado e a performance real na distância de 60m. Quando eram consideradas somente as provas entre 100m e a Maratona, o erro médio caía para 1,08%. Mas ainda assim, as diferenças entre os desempenhos esperados e reais permaneceram maiores para as mulheres do que para os homens, Tal fato sugere que os melhores resultados mundiais femininos em 1987 ainda não possuíam a mesma consistência dos recordes masculinos, talvez devido à ainda curta história das performances femininas nas médias e longas distâncias.
Quando provas mais longas do que a Maratona eram incluídas na análise, o erro médio aumentava, tanto para homens como para mulheres.
PÉRONNET e THIBAULT sugeriram que a resistência aeróbica, também chamada de "endurance" intensiva de um atleta, seja expressa por um número que chamaram de "índice de endurance", que podemos também chamar de "índice de resistência anaeróbica" (IRA).
Quando definimos anteriormente a resistência anaeróbica, dissemos que ela se traduz pela capacidade de manutenção, durante um longo tempo, uma elevada potência aeróbica relativa. Entretanto, para se realizar comparações entre dois atletas, essa definição só pode ser aplicada se: (a) fixarmos a %PAM (por exemplo, um deles consegue sustentar 83%PAM por 90min, enquanto que o outro só suporta essa mesma %PAM durante 60 min); (b) padronizarmos o tempo de prova, deixando variar a %PAM (como no caso de dois atletas, capazes de sustentar, respectivamente, 85 e 90%PAM durante I20min) ou (c) fixarmos a distância da prova (como no caso dos estudos, já comentados, sobre a %PAM suportada em 15krn de corrida).
Mas não é muito fácil que se conheçam essas informações sobre diferentes atletas.
O mais comum é que tomemos conhecimento de resultados obtidos em competições distintas, em diferentes distâncias, cumpridas em tempos também diferenciados. Assim, o máximo que podemos fazer é estimar as %PAM individuais que esses atletas sustentaram nessas provas variadas (por exemplo: 88,1%PAM em 1h:04min. para um atleta e 80,6%PAM durante 2h:11min. para outro).
Para contornar essa dificuldade, o índice proposto por PÉRONNET e THIBAULT é de enorme utilidade. Eles mostraram que é possível usar a declividade da reta que relaciona a PAM em função do logaritmo do tempo de prova, como um valor numérico para o equacionamento do treinamento e para estimativas e comparações entre diferentes atletas. É um número que representa a resistência anaeróbica do atleta.
O IRA, que é a inclinação da reta que relaciona a %PAM com o logaritmo do tempo em minutos, possui um sinal negativo, já que a reta é descendente. Assim, quanto menor for o valor absoluto do IRA, maior será a resistência anaeróbica do atleta, pois a reta do seu gráfico será menos inclinada. Um atleta hipoteticamente perfeito, que fosse infinitamente resistente anaerobicamente, ou seja, que conseguisse eternamente sustentar 100% de sua PAM teria como gráfico uma reta horizontal correspondente a um IRA igual a zero.
Uma vez que o IRA retrata a inclinação de uma reta descendente, e já que para se traçar uma reta basta que se conheçam dois pontos por onde ela passe, não é difícil a estimativa do IRA para qualquer pessoa se considerarmos sete minutos como um dos pontos de referência, onde a PAM deverá poder ser sustentada em sua plenitude (100%). Para a localização do outro ponto, será necessário apenas que saibamos o resultado da melhor performance individual em uma prova, a mais longa possível com duração superior a 10 min, coletado na mesma época em que foi avaliada a PAM. A partir desses dados, basta apenas que se aplique a fórmula:
IRA = (%PAM utilizado em uma prova - 100) / In (tempo da prova / (14, - TPAM))
Na qual os tempos são considerados em minutos.
Sempre que for obtido um valor do IRA entre zero e -2,5 deve-se analisar cuidadosamente a situação, pois se ele pode estar realmente retratando uma excelente resistência anaeróbica, é também possível que tal índice tenha sido encontrado devido a uma subestimação da PAM.
O caso inverso também poderá ocorrer: o valor absoluto do lRA calculado poderá se mostrar muito alto. É comum que isto aconteça devido a terem sido considerados desempenhos que não retratam verdadeiramente as possibilidades máximas do atleta em provas com mais de 10 minutos de duração.
De qualquer forma, até o momento, não há alternativa: se a PAM for desconhecida e se também não for conhecida nenhuma performance realmente representativa das possibilidades de um atleta em provas de mais de 10min, será praticamente impossível avaliar com precisão a resistência anaeróbica do mesmo por meio do IRA.
Vimos que a definição de resistência anaeróbica inicialmente apresentada, apesar de correta, não é muito prática para comparações e precisas q quantificações da condição física de um atleta. Comentamos, então, a concepção do IRA, um índice ele fácil cálculo, que supre as deficiências ela definição inicial. Assim, com a introdução desse aperfeiçoamento, torna - se possível um aprimoramento do conceito ele resistência anaeróbica, que embora um pouco mais complicado, é mais preciso do que aquele primeiramente apresentado.
Essa nova definição, baseada no IRA, pode ser enunciada da seguinte forma: a expressão da resistência anaeróbica de um atleta é a redução da potência aeróbica relativa que pode ser mantida pelo mesmo, em função do tempo de desempenho. Quanto mais próxima de zero, melhor ela será, e sua representação matemática é o índice de resistência anaeróbica (IRA). que se verificará a cada vez que o tempo máximo suportado a 100% da PAM (TPAM) for multiplicado, de maneira cumulativa, pela constante "e", base dos logaritmos neperianos, que vale 2,71828 (MOREIRA,1996). É uma definição bem mais complexa, sem dúvida, mas é a mais correta até agora formulada.
Destarte, quando se deseja comparar a resistência anaeróbica entre diversos atletas, pode-se avaliar a %PAM que eles sustentam em uma determinada duração de prova. Consideremos como exemplo uma corrida de lh04min, que pode significar 21100m para alguns, ou 16000m para outros, não importa. No conceito de resistência anaeróbica, o fundamental é a duração total da prova, e não sua distância.
Se for conhecido o IRA de um atleta, pode-se calcular com facilidade a %PAM que ele suportará para uma certa duração de corrida. A fórmula que permite descobrir a %PAM possível de ser sustentada durante um tempo de prova "T", medido em minutos, é a seguinte:
%PAM = 100 - (IRA x In(TPAM/T)
Como já comentamos, na falta de informação sobre o valor do TPAM de um atleta, podemos considerá-lo como sendo de sete minutos, que é o valor médio encontrado na população.
Prosseguindo, se um atleta possui um IRA de -6,10, em duas horas de prova ele sustentaria: 100-(-6,l0.ln(7h 20)) = 100-(-6,l0.ln(0,059). Numa tabela logarítmica, verificamos que logaritmo neperiano de 0,059 é -2,83022 portanto a potência aeróbica relativa que o atleta sustentaria em 120min seria: 100-(-6,10X-4,83022)=10017,465=82,7%PAM.
Se quisermos descobrir a %PAM que esse mesmo atleta sustentaria em 44,33min de prova, teríamos:
100 – ( – 6, 10.ln( 7/ 120,33)) = 100 – ( – 6 ,10.ln(0, 158) = 100 – ( – 6, l0x – 1,84516) = 100 – 11256=88,7%PAM.
Esse método de raciocínio é de utilidade ímpar no processo de Treinamento Desportivo. Para corredores, por exemplo, quando se conhece a PAM de um atleta e se calcula a %PAM que ele poderá empregar para certa duração, pode-se deduzir a velocidade que será sustentada na mesma e, assim, obter-se a distância total capaz de ser cumprida durante o tempo escolhido.
A resistência anaeróbica de um atleta depende de muitos fatores. Nos desempenhos compreendidos entre 1h:30min e 3h:30min, as reservas de glicogênio muscular, assim como a capacidade individual de economizá-Ias, são determinantes e, portanto, a resistência anaeróbica estará extremamente influenciada por essas duas variáveis. Como o treinamento correto possibilita o acúmulo de maiores estoques musculares de glicogênio pela adequada relação entre o gasto energético e a alimentação apropriada, além de habituar o organismo a favorecer a lipólise, aumentando a utilização de ácidos graxos como substrato energético e economizando glicose, ele permite um aprimoramento da resistência anaeróbica.
A INFLUÊNCIA DA IDADE SOBRE A RESISTÊNCIA ANAERÓBICA
Do ponto de vista da análise científica, se examinamos o IRA de grandes atletas ao longo do tempo (o que pode ser facilmente estimado a partir de suas performances) ou, tal como fizeram PÉRONNET e colaboradores que analisaram o comportamento do IRA em 2464 corredores norte-americanos de nível médio, constataremos que os valores tornam-se menos expressivos com o aumento de idade e que, assim como ocorre com o Vo2máx, os atletas mias resistentes anaerobicamente são os mais jovens.
Conclui-se, pois que a queda na qualidade do desempenho à medida que envelhecemos, deve-se sobremaneira à diminuição da PAM, mas também à perda gradativa de resistência anaeróbica.
A INFLUÊNCIA DO SEXO
Pesquisas conduzidas por cientistas com estimativas do IRA têm indicado que o índice feminino é em média, 18% mais baixo em valor absoluto (e, portanto, melhor) do que o masculino.
Observa-se coerentemente, que a diferença entre os desempenhos masculinos e femininos relaciona-se de maneira inversa com a duração das provas: à medida em que aumenta a diferença diminui.
1. Ao término de sessões de treinamento, cujos conteúdos sejam fundamentalmente anaeróbicos, ocorrem mecanismos fisiológicos de compensação, os quais permitirão a reconstituição das reservas de oxigênio do organismo, a eliminação dos detritos metabólicos e a recomposição das reservas de oxigênio em nível de mioglobina dos músculos.
2. Segundo ASTRAND e RODAHL (1984), durante um esforço, mais intenso, o processo anaeróbico atende parte da energia necessária. A energia não é produzida somente pela glicogenólise ou pela glicólise, mas também pelo desdobramento do ATP e da creatina-fosfato (GP). No trabalho intenso em que a demanda de consumo de oxigênio é muito grande, o ácido lático aparece no sangue com uma concentração que pode ser medida no próprio sangue arterial. Logo, no trabalho de grande intensidade, a maior contribuição energética é anaeróbica. O aumento da concentração lática no sangue é acompanhado por um decréscimo do PH do tecido muscular do atleta, por mais desconforto respiratório e dificuldades em outras funções.
3. Um grande número de estudos mostra que o desenvolvimento de resistência anaeróbica num atleta de alta-competição está condicionado por duas variáveis: (a) O desenvolvimento precedente da resistência aeróbica do atleta (VOLKOV, 1969; CHANON, 1971; QUIRION e METHOT, 1975; TELENA, 1976) e (b) A capacidade psicológica do atleta de resistir ás exigências do trabalho anaeróbico (QUIRION e METHOT, 1975; FAUCONNIER, 1968; MOREIRA, 1996).
4. A freqüência cardíaca favorece um controle efetivo nas sessões de treinamento com predominância de trabalho anaeróbico, oferecendo meios para que os treinadores possam constatar o momento exato em que os estímulos devam decrescer em intensidade ou ser interrompidos. Na utilização do treinamento para o desenvolvimento da resistência anaeróbica, a freqüência cardíaca tem uma função importante, pois a intensidade do esforço desejada para o fim proposto pode ser controlada pelo número de batimentos cardíacos.
5. No desenvolvimento da capacidade anaeróbica de atletas, são usadas diferentes formas de preparação, e embora haja um grande número de autores que afirmem que o treinamento intervalado seria o meio mais eficaz para o aperfeiçoamento dessa valência física, o chamado treino contínuo de “endurance" (CE) também se destaca como um dos métodos mais efetivos nesse sentido. A premissa substantiva no treinamento anaeróbico é que os atletas sejam submetidos a estímulos que provoquem esforços em débito de oxigênio, isto é, que os atletas treinem a resistir ao débito de oxigênio.
6. QUIRION E METHOT (1975) explicaram a fadiga fisiológica que pode limitar o trabalho anaeróbico, dividindo-a em dois tipos de fadiga:
a) Afadiga bioquímica, determinada pelo rápido declínio do ATP e CP, ou ainda pela depleção do glicogênio muscular e hepático;
b) A fadiga neuromuscular, causada por uma deficiência acumulativa e por uma sobrecarga no influxo nervoso no nível das placas motoras terminais.
7. A melhoria da resistência anaeróbica está correlacionada aos seguintes efeitos e características nos atletas:
a) Melhoria na capacidade psicológica para suportar esforços intensos;
b) Aperfeiçoamento dos mecanismos fisiológicos de compensação para suportar cargas intensas;
c) Melhores possibilidades para os atletas suportarem variações de ritmos durante as provas.
8. GEORGESCO (1977), na aplicação de um teste anaeróbico por ele concebido, em investigação sobre a capacidade anaeróbica com jovens romenos entre 7 e 21 anos dos sexos masculino e feminino e que não eram atletas, chegou às seguintes conclusões:
a) A capacidade anaeróbica em jovens do sexo masculino aumenta continuamente até os 18 anos e depois permanece próxima aos valores alcançados até os 21 anos;
b) A capacidade anaeróbica em jovens do sexo feminino aumenta continuamente até os 15 anos, permanece estabilizada até os 17 anos e depois decresce ligeiramente entre os 17 e os 2l anos;
c) A relação entre a resistência anaeróbica e o peso corporal nos homens é significativa até os 16 anos e nas mulheres até os 14< anos. A explicação deste fato está fundamentada no desenvolvimento da massa muscular;
d) Não existem diferenças significativas no desenvolvimento natural da capacidade anaeróbica entre os sexos até os 1::; anos. Após esta idade, as mulheres apresentam um valor menor do que os homens da mesma idade.
9. Ao estabelecer um estudo das marcas atléticas, VOLKOV Ú97::;) afirmou que os corredores atuais conseguem melhores performances, apesar de apresentarem os mesmos índices de consumo de oxigênio, devido à melhor técnica de corrida, ao melhor aproveitamento do oxigênio pelos músculos em ação e pelo aumento considerável das possibilidades anaeróbicas.
10. CHANON (1972), numa abordagem específica em corredores de meio-fundo e fundo, propõe um treinamento complementar anaeróbico, que resultaria em: (a) Apresentação de um melhor ritmo de corrida; (b) Resistência a uma solicitação superior ao esforço em "Steady-State"; (c) Suportar melhor as trocas de ritmo durante a performance e (d) Possibilidade para acelerar no final da prova, com utilização dos mecanismos fisiológicos anaeróbicos adquiridos.
39 comentários:
o coisa grande...kkk
thalia
nossa!!!!
fiquei mais de 40 min procurando resistencia anaerobica....okaoskaoskaosk =p
Nossa! é muito grande esse texto..kkk
KKKKKKKKKKKKK, demorei muito para achar oqe queria, muuito grande meu (:
mano muito grande esse texto ae :x
demorei pra caramba pra achar oqe eu qeria .
mano esse texto é muito grande meu :x
demorei pra cramba pra char oqe eu qeria .
cara é bastante grande!!!pensei que nunca mais ia parp de copiar!quesia.
enorme esse texto vei resume ai na prox
ufa achei que não fosse terminar nunca.
Rosa maria
VAI TOMAR NO CU TUDINHO
muito grande :/
&& não quero ler :\
nossa sei texto tah mesmo muito extenso ...
maix tah valendo me ajudou muito .... e não tive preguiça de resumir !!! bjs*
NOSS,Tive q dar um ctrl+F pra achar o que eu queria...
nss demorei bast. p encontrar
o principal não foi falado com relação a resistencia anaeróbica, como:
a)aumento das reservas alcalinas,
b)hipertrtofia das fibras tipo 2 e
c)aumento da vascularização das mesmas,
d)a fibra tipo 2 assumem características metabólicas das do tipo 1
e)...
po meu até q/ em fim terminei B)
pensei q falar de aerobica era mais facil.hein
kkkkkkkkkkkkkkkk
Parabens pelo trabalho! Quem não gostou faça melhor.
legal Ameii super Demaiis.:-)
Put'z, eu acheei mtoo bacaanaa !! Tinhaa tudinhoo Q eeu precisavaa !!
oxi nem encontrei oq eu keria T.T
Muito grande pô, eu que não copio tudo isso.
blz achei oq queria valeu cara e como vc escreve em kkkkk um abraso
Meu Deus do céu ,td isso ...
nossa q texto grande nem li tudo kkk
quais todos os dias faço atividades anaerobicas.
Fiquei mais um pouco musculoso
XAU
se tão achando esse texto grande, vão voltar pro jardim. paciência. Esse texto é ótimo.
o texto grande da poraaaaa.kk
Gente, respeito aê, mano. Outra coisa: por maior que seja o texto, mesmo não tendo lido0o todo, serviu pra algo. Valeu, dono do blog *---*
existe um erro de valores e numeros na sua formula, contudo, seu texto foi de grande importancia na construcao do meu conhecimento. fico grato.
ME AJUDOU MUITO NO MEU PLANO DE AULA
muito grande esse texto não vou copiar não kkkk
caramba meu q texto grande da porra... sode ver da preguiça
Eu fiquei copiando esse texto 3 semanas e eu consegui . Aleluia
Gostei do texto.Temos que deixar a preguiça de lado. Desculpem a sinceridade, mas professor ou aluno que tem preguiça de ler, jamais se tornará um pesquisador. Se pensamos ou já pensaram algum dia em Mestrado ou Doutorado, todos temos que nos habituarmos a longas leituras. Parabéns ao professor Bruno Gonzaga.
Meu Deus que texto grande !!!😲 tive que resumir se não ia terminar nunca parece que nunca acaba!!! Se não ia morrer de tanto escrever isso kkkkk
SÓ de pensar em escrever JÁ da preguiça 😴 kkkk eita texto grande....
Qual é o nome do autor
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